A água é um dos principais elementos da natureza humana e da natureza da própria Terra. Assim, não é preciso-lhe dizer mais para se compreender o quanto ela é fundamental a nossa saúde, a nossa vida. Os seus efeitos terapêuticos são conhecidos desde os tempos mais remotos. Segundo o Ayurveda, a medicina tradicional da Índia e a mais antiga de que se tem notícia, a água, como um dos cinco elementos da natureza, possui um tipo de energia vital chamado prana, que também se encontra na terra, no ar, no fogo e na luz. Entre as qualidades do prana está a capacidade de energizar o organismo, tornando-o mais saudável e vibrante.
No ocidente, já na Roma antiga, os balneários ou termas, como eram conhecidos, ganharam um lugar de destaque na vida e na saúde dos cidadãos, e passaram para a história, não só como ponto de encontro obrigatório, uma espécie de "bastidor político", mas ainda como grandes monumentos arquitetónicos graças a sua beleza e a suas dimensões generosas. O mais famoso foi construído nos arredores de Roma, por Caracala, que governou o império romano entre os anos de 188 e 217. São as termas de Caracala, cujas ruínas hoje nos deixam entrever o quanto esse balneário foi importante há quase dois mil anos. A água é um dos principais elementos da natureza humana e da natureza da própria terra.
Somos basicamente água
Oitenta por cento do organismo humano é água e a sua reposição é vital para ele. Portanto, quanto mais pura e mais vitalizada for a água que ingerimos, tanto melhor será a qualidade da vida biológica na totalidade. Mas a água não é só para se beber, ela pode ser usada de diversas formas em tratamentos segundo uma técnica natural denominada hidroterapia, agindo no combate às mais variadas doenças, a dores, distúrbios gerais de saúde, traumatismo e mesmo na esfera emocional.
Segundo o tipo de tratamento, os objetivos terapêuticos, a forma e o local de aplicação, a hidroterapia está dividida em duas aplicações básicas:
- Hidroterapia para uso interno, a ingestão de água comum ou a ingestão de águas minerais, clisteres, etc.
- Hidroterapia para uso externo, como banhos, compressas, fricções e tratamento com gelo, ou crioterapia.
Limpar o organismo
Além de eliminar as impurezas do corpo, a água que bebemos tonifica e revitaliza. Neste tipo de aplicação a água pode ser ingerida ou utilizada sob forma de clisteres, ou ainda em lavagens intestinais. No primeiro caso, o mais comum e mais simples, a água deve ser sempre a mais pura possível, preferencialmente água de fontes, de nascentes limpas, de quedas de água, de minas, da chuva, ou então, em último caso, a água destilada. Jamais se deve usar a água comum das torneiras como recurso hidroterapia de uso interno devido a seu alto teor de produtos químicos, resíduos, agentes "purificadores", etc.; a água de torneira pode ser aplicada apenas externamente.
Seguindo-se a técnica da hidroterapia, a água pura ingerida tonifica e limpa o organismo, graças as suas propriedades depurativas e diuréticas, pois, ela provoca no organismo uma espécie de drenagem das impurezas, das substâncias tóxicas, de medicamentos, e resíduos alimentares. Desse modo, ela estimula os rins a eliminarem maior quantidade de material agressivo ao metabolismo e de compostos que perturbam a nossa boa condição biológica.
Além da água pura, as águas minerais de fontes especiais, ou águas medicinais, também exercem efeitos vitalizantes e curativos. Se considerarmos o princípio ayurvédico de que a água transfere a própria energia ao organismo que a recebe, ela então contribui de modo efetivo na recuperação de partes doentes do organismo, que estão carentes de vitalidade. Além disso, a água pura e natural, quando convenientemente ingerida, é capaz de curar, porque, como já foi dito, carrega consigo não só os detritos, mas absorve a energia perniciosa das áreas doentes. Não é à-toa que se diz popularmente que a água é o agente universal da limpeza e da higiene. E se ela tem essas propriedades no meio externo, conserva-as quando em contacto com a parte interna do organismo.
Água destilada
A hidroterapia por via oral pode aplicar a água na sua forma mais pura, o qual é a destilada. Nessas condições, ela é composta apenas de dois átomos de hidrogénio ligados a um átomo de oxigénio, a famosa fórmula da água, H₂O, não contendo nenhum outro elemento além desses. Sendo assim, os seus efeitos diuréticos e depurativos se ampliariam em função da não interferência de nenhum outro componente habitual da água, como os sais de enxofre, de sódio, de magnésio, da sílica e os seus derivados (silicatos), etc. Sem dúvida, existem vantagens no uso da água destilada no tratamento de várias doenças, mas há desvantagens. Uma delas, a principal, é que o processo de aquecimento da água exigido para a destilação retira dela o oxigénio livre e a energia vital (prana), fazendo com que perca a sua capacidade de recuperação dos órgãos e aparelhos doentes, assim como de oxigenação dos tecidos de todo o corpo. Mantém-se apenas a sua capacidade diurética, o que, portanto, restringe o seu raio de ação.
Águas minerais
As águas de fontes minerais são conhecidas pelo homem desde tempos mais longínquos e se encontram em regiões privilegiadas de várias partes do mundo. O uso das águas medicinais, aliás, já ganhou nome próprio entre as ciências médicas, crenoterapia, sendo ensinado e aplicado em muitos países. A água mineral de fontes medicinais possui efeitos terapêuticos devido a determinadas condições, além de concentrarem abundância de energia vital, devido ao oxigénio livre, elas contêm radiatividade natural em mínimas quantidades o que produz efeitos salutares, e compostos que variam segundo o tipo de água, como sulfatos, nitratos, cloretos, bicarbonatos, silicatos, etc., combinados com diversos elementos, tais como sódio, potássio, alumínio, magnésio, ferro, cobre, manganês e outros.
Tais componentes, combinados com o teor ácido ou alcalino da água, transformam-na em poderoso agente capaz de combater as doenças e os estados de debilidade, produzindo curas importantes e prevenindo as moléstias. Muitas regiões do mundo ficaram famosas pelas suas águas curativas, sendo conhecidas grande parte das suas propriedades medicinais. Sabe-se também que a capacidade curativa das águas minerais varia conforme a região em que as suas fontes se localizam. O efeito das águas medicinais só é obtido quando elas são utilizadas no momento em que são retiradas das fontes, se engarrafadas ou acondicionadas em recipientes perdem a sua capacidade curativa. Por esta razão, para que se obtenha um bom resultado com o uso deste tipo de hidroterapia oral, é necessário reservar um certo tempo e permanecer numa estância hidromineral onde é possível também o tratamento externo com banhos de imersão nessas águas. As estâncias propiciam orientação médica para uso correto das águas e dos banhos.
Usos externos da água
Duches, banhos, saunas, compressas, são muitos são os métodos que usam a água para curar. O uso externo da água como tratamento é um método muito antigo. Acredita-se que o homem primitivo já utilizava instintivamente aplicações de água contra contusões ou nos ferimentos e banhava-se em água fresca para estimular o corpo e restaurar as suas forças. Hipócrates aplicava sistematicamente a hidroterapia, tendo deixado importantes escritos onde descreve diversas formas do seu uso. Os hidroterapeutas mais conhecidos da história da medicina são relativamente recentes. Há grandes nomes como Khüne, Prissnitz, Carton, Padre Tadeo, Acharan ao lado de uma centena de outros, menos famosos.
O ciclo do profundo bem-estar
Embora os efeitos da hidroterapia sejam notáveis, ainda não se formulou uma teoria geral para se explicar a capacidade terapêutica da água. Há diversas hipóteses procurando estabelecer uma tese fundamentada nos critérios científicos analíticos, de entre delas, a mais aceita é a que atribui os resultados da hidroterapia à dilatação e contração dos vasos sanguíneos e à abertura dos poros com a consequente eliminação de material tóxico que perturba as funções orgânicas. Há, além desta, outras explicações para a cura ou a melhora produzida pela aplicação da água. Segundo Lezaeta Acharan, um dos grandes estudiosos do sistema, as compressas, os duches, os banhos, as massagens hídricas e demais recursos da hidroterapia harmonizam e restauram o equilíbrio térmico orgânico, prejudicado pela presença de compostos tóxicos responsáveis pela elevação e pelo acúmulo excessivo de calor nas vísceras mais profundas, notadamente nos intestinos.
O desequilíbrio térmico assim gerado é a causa de inúmeros problemas e doenças, deste a mais simples constipação até as enfermidades crónicas e degenerativas. Para Acharan, a hidroterapia bem aplicada promove o reequilíbrio térmico graças ao poder da água de bem distribuir a energia térmica do organismo vivo. Ainda segundo Acharan, a alimentação moderna, composta por excesso de carne animal e de açúcar branco, por alimentos industrializados, que contem aditivos, ou daqueles impregnados de agrotóxicos é responsável por esse desequilíbrio.
Há ainda teoria que afirma ser a vitalização, ou transferência de energia vital da água para os tecidos doentes, o agente capaz de promover a cura. Quanto aos efeitos de relaxamento e calma produzidos após aplicações hidroterapêuticas, entende-se que sejam determinados por uma espécie de "massagem nervosa" obtida após as séries de banhos com temperaturas alternadas, esses banhos provocam contração e dilatação dos vasos sanguíneos, o que, por sua vez, estimula o sistema nervoso autónomo, representado pelos sistemas simpático e parassimpático que, entrando em equilíbrio funcional, determina a sensação indescritível e prazerosa de calma e tranquilidade.
Esse processo de contração e dilatação dos vasos é um poderoso recurso desintoxicante, capaz de descarregar resíduos tóxicos e de contribuir, assim, para o relaxamento do organismo, em consequência do relaxamento muscular gerado pela restauração do equilíbrio do sistema nervoso autónomo. Sabemos dos efeitos imediatos produzidos por um banho quente ou morno, tais como o relaxamento e a suavização do corpo, sabemos também do efeito estimulante da água fria ou gelada. Mas a hidroterapia é uma ciência mais complexa e bem estruturada, capaz de tratar não só de problemas simples, como também dos mais complicados, agudos ou antigos. Para isso, existem diversos modos de aplicação da água, segundo as técnicas da antiga e da moderna hidroterapia
Duches
Quente, fria ou morna, um saudável jato de água, é a forma mais comum de hidroterapia. Trata-se de um jato moderado ou forte de água, orientado para determinada área do corpo ou mesmo para o corpo todo. Para se obter o efeito terapêutico desejado, a água do duche deve estar em temperatura apropriada, bem como deve obedecer à técnica que recomenda os locais do corpo e a força com que deve ser aplicada. Elas devem ser sempre ministradas em jato direto, em leque ou então em chuvisco, de intensidade e temperatura variáveis para cada caso.
1. Duche quente
De efeito calmante, alivia dores e nevralgias, além de produzir, em geral, bom resultado contra a insónia. A temperatura ideal para um duche forte ou para a chuveirada comum é de aproximadamente 42º C, durante mais de três minutos.
2. Duche frio
O seu efeito é tonificante. A duche é utilizada contra o cansaço, a dinâmica e a debilidade geral, a pressão baixa, a sonolência e na recuperação de desmaios. Pode ser usada para fazer baixar a febre em casos de temperaturas muito elevadas. Aqui, porém, é sempre recomendada a orientação médica. O duche frio produz de imediato uma forte contração dos vasos sanguíneos (vasoconstricção) o que determina uma dilatação compensatória posterior. Aliás, essa dilatação compensatória é responsável pela sensação de aquecimento após um banho muito frio e, por isso mesmo, os banhos frios são usados nas regiões muito geladas. São, de facto, extremamente eficazes para combater a sensação de frio.
As notícias de que em áreas da Sibéria existe o hábito de se aplicar banhos de água fria com rigorosas fricções para se evitar o enregelamento. Assim, é enganosa a ideia de, num dia frio, tomar banho muito quente para se aquecer porque o resultado será sempre a maior intolerância ao frio, e se, ao contrário, nos encorajarmos a tomar banhos frios no inverno, tornamos o nosso corpo muito mais resistentes às baixas temperaturas. Esse fenómeno deve-se à vasoconstricção seguida de uma vasodilatação, o que transfere o calor retido dentro do organismo para a periferia. Por isso, a duche fria, usada regularmente, é útil no tratamento das doenças circulatórias, em geral, e arteriais em particular, assim como de muitas doenças crónicas, quando o organismo se habituou à retenção excessiva de calor nas regiões mais profundas do corpo.
Um sinal de desequilíbrio térmico é sintoma permanente de "extremidades frias", ou seja, mãos e pés sempre frios. O tempo ideal para a aplicação do duche fria é de trinta segundos, a uma temperatura de 20° C, repetindo-se a aplicação várias vezes durante uma mesma sessão de duche. Se necessário, repetir as aplicações durante semanas seguidas.
3. Duches de temperaturas alternadas
Consistem em aplicações de duches quentes e frias alternadamente. Podem ser em partes iguais ou com maior quantidade de água quente. As duches temperadas onde se aplicam partes iguais de água com temperaturas diferentes são recomendados contra o reumatismo, artrites, artroses, rigidez articular em geral, dores musculares, e dores nervosas. Estas, como outras formas de duches, são muito usadas na fisioterapia clássica para o tratamento de problemas musculares. A água deve ser aplicada sobre a parte afetada ou então sobre todo o corpo, alternando-se a água quente com a fria durante vinte segundos para cada uma, repetindo-se cerca de dez vezes. Nestas aplicações utiliza-se o duche forte, tipo escocesa, cuja temperatura pode ser mudada instantaneamente por meio de um aparelho misturador. Efeito semelhante pode ser obtido num chuveiro onde a chave da temperatura pode ser mudada de quente para frio, só que, neste caso, não se obtém a massagem vigorosa que acompanha a aplicação do duche forte direta.
Quando aplicada no corpo interno, em temperaturas alternadas, a água produz constante dilatação e contração dos vasos sanguíneos, criando uma deliciosa sensação de suavidade. Os duches alternados, onde o tempo de aplicação da água quente é superior ao da água fria (que, por sua vez, deve ser aplicada em jatos rápidos e curtos), produzem bons efeitos contra a circulação deficiente, varizes, hemorroidas, paralisias devido à má circulação, problemas da circulação arterial, em geral, tais como a arteriosclerose cerebral, a arteriosclerose coronariana, a angina pectoris, o infarto (como prevenção e como tratamento pós-infarto).
Elas ainda são recomendadas em casos de tabagismo com ou sem complicações circulatórias, no diabete, nas tromboses, nas embolias e nas obstruções arteriais, em geral, assim como nos casos de úlceras gástricas, dores crónicas, deficiência energética, cansaço e anemia. O tempo adequando de aplicação e de 5 minutos de água quente para apenas 1 minuto, no máximo, de água fria. Produz grande bem-estar e relaxamento, pode ser aplicada em casos de forte tensão emocional, nervosismo, ansiedade e agitação, com efeitos às vezes muito superiores aos medicamentos psiquiátricos ou neuróticos. Além disso, tem a vantagem de não produzir efeitos colaterais nem danos ao organismo. Existem relatos de bons resultados desse tipo de duche para o tratamento da insónia nervosa crónica resistente aos soníferos comuns.
Saunas
Secas ou húmidas, as saunas combatem e previnem muitas moléstias. Tanto as saunas, sejam secas ou húmidas, quando os banhos de vapor, ou banhos turcos, representam uma importante meio-hidroterápico para combater e prevenir moléstias, mantendo a saúde em equilíbrio. O mecanismo de ação desses recursos consiste principalmente no facto de que o calor elevado dilata os poros, produz suor intenso e contínuo. Com isso, as toxinas, assim como quaisquer substâncias perigosas, tais como excesso de sais, são expelidas, suavizando-se o organismo e criando-se, desse modo, melhores condições de funcionamento biológico. O banho frio após as saunas estabelece o processo, já mencionado, de dilatação e contração sucessiva dos vasos, gerando equilíbrio do sistema nervoso autónomo. O organismo assim descongestionado tem melhores condições de se curar e se tornar mais resistente às doenças. Habitualmente, uma sauna ou banho de vapor deve ser acompanhada por duches frias e intervalos de descanso. O ideal é que sejam feitas três a quatro sessões de permanência na câmara quente, intercaladas com um duche fria em jato forte e rápido, seguindo-se um período de descanso de 15 a 20 minutos entre as incursões ao calor.
Principais indicações
O hábito regular das saunas e banhos de vapor uma ou duas vezes por semana mantém o organismo saudável, o sangue limpo, a pele mais bonita e regula o funcionamento orgânico. Eles estimulam a circulação central e periférica, restauram as energias, eliminam a fadiga e as dores musculares. São úteis contra a obesidade, as doenças renais, o reumatismo, o excesso de colesterol e de gorduras no sangue, a diabete, a artrite, os problemas menstruais, as doenças da pele, a bronquite asmática, as gripes, a tensão emocional, as contraturas musculares nervosas, a depressão, a ansiedade. Dependendo do caso, são ainda preconizados contra as sinusites, as rinites, as amigdalites e as doenças catarrais das vias respiratórias baixas, além de se comprovarem como importantes recursos auxiliares em numerosas doenças crónicas.
Seca ou húmida?
A sauna seca é mais indicada para casos como a obesidade, as doenças reumáticas e articulares em geral, doenças circulatórias, etc. A sauna húmida é mais indicada para as doenças respiratórias da garganta e das mucosas, particularmente se a ela for associado o uso de eucalipto, de pinho, de capim-cidreira e demais plantas contendo essências voláteis que ajudam a fluidificar o muco as secreções respiratórias acumuladas, promovendo expetoração e proteção da mucosa. Esse tratamento pode ser improvisado, e na falta de uma sauna comum, pode-se sentar a pessoa numa cadeira, envolvê-la com lençol grosso ou cobertor, mantendo-se a cabeça para fora, e colocar sob a cadeira uma mangueira ou panela para emissão de vapor, o que provocará transpiração.
Depois disso, aplica-se um banho tépido ou morno. Esta é uma variação mais simples do banho turco em que a pessoa fica sentada no interior de uma espécie de cabina de madeira dotada de uma abertura na parte superior de modo que a cabeça fique para fora. A cabine tem ainda uma pequena abertura inferior para onde entra o vapor produzido por um mecanismo especial. A sauna e o banho de vapor são contraindicados para pressão arterial muito elevada, situações pós-derrame cerebrais, pós-enfarte, processos infeciosos agudos, gripes fortes, febres, viroses da infância, anemia extrema e casos muito graves.