O dinheiro transcende o seu poder de compra. Ele influencia todos os aspetos da vida – relações, trabalho, saúde e governo. O modo como lidamos com ele é um reflexo direto da nossa personalidade e dos valores que nos norteiam. O professor de filosofia Jacob Needleman afirma que o dinheiro é "um espelho que reflete a nós mesmos". Embora em outras épocas as pessoas desejassem salvação ou poder, no tempo atual, o dinheiro tornou-se o desejo universal.
Dinheiro e Afetividade: O Fluxo do Dar e Receber
A socióloga e consultora de empresas Glória Maria Garcia Pereira estabelece uma ligação íntima entre finanças e emoções:
- "Dinheiro e afeto estão intimamente ligados, pois a primeira coisa para se dar bem com o dinheiro é perceber que ele é uma energia de troca. Assim como as relações afetivas, exige equilíbrio no fluxo de dar e receber."
Quem tem problemas financeiros pode estar a refletir dificuldades afetivas, onde as trocas estão descompensadas. A verdadeira riqueza não é gerada pelo trabalho árduo ou herança, mas sim pelos pensamentos que temos sobre o dinheiro.
Exemplo: Fixar-se na ideia de que ganhar dinheiro exige sofrimento ou muito esforço criará essa realidade. Uma mudança nesse padrão mental — ver a prestação da casa como um investimento em bem-estar e não como um peso, por exemplo — é fundamental para entrar no fluxo da abundância.
O Dinheiro e o Processo de Autoconhecimento
As preocupações financeiras (contas, incerteza) são frequentemente o reflexo de angústias existenciais mais profundas: Quem sou? O que realmente faz sentido na minha vida?
Assim como os nossos sentimentos, o dinheiro remete-nos para nós próprios e para a nossa ação no mundo. É um campo fundamental da vida em que só nós podemos decidir. O filósofo Needleman salienta que a verdadeira felicidade reside no contacto humano, fonte maior de satisfação, muito superior às posses materiais.
As Cinco Sábias Leis para o Sucesso Financeiro
Segundo Glória Maria Garcia Pereira, o sucesso financeiro obedece a cinco ações fundamentais, que devem ser equilibradas:
- Ganhar: O ponto de partida da energia de troca.
- Gastar ou Negociar: Manter o fluxo de saída equilibrado e consciente.
- Fazer Circular ou Multiplicar: Ação que visa o crescimento do capital.
- Poupar para Realizar Sonhos: Reserva estratégica com um propósito definido.
- Investir (Arriscar): Alocar uma pequena parte dos ganhos em novos investimentos, mesmo que haja algum risco. Nunca investir tudo.
A Armadilha do Sentimento de Culpa
Apesar de simples, muitas pessoas têm dificuldade em aplicar estas leis, devido a uma crença cultural empobrecedora: a ideia de que o dinheiro é "sujo" ou que a riqueza individual implica a pobreza de muitos.
O rabino Nilton Bonder, autor de A Cabala do Dinheiro, explica que essa armadilha leva as pessoas a negligenciarem ou a temerem o dinheiro, resultando na estagnação e perda (por exemplo, guardar o dinheiro e deixá-lo ser corroído pela inflação, por considerá-lo materialista).
- Solução: Doar e contribuir para bens coletivos (praças, escolas, creches) é crucial para manter o bom fluxo. Ao fazê-lo, reconhecemos que o dinheiro não gera apenas bens individuais, mas serve a todos.
O Verdadeiro Milagre da Riqueza
Muitos sonham em ganhar na loteria ou receber uma herança. No entanto, o rabino Bonder lembra que o verdadeiro milagre é o prover o próprio sustento, dia após dia. Isso significa ter saúde, poder trabalhar e sustentar o ciclo da vida.
- Riqueza Não é Quantidade, é Atitude: Para Glória, se "você recebe com alegria, nada será pouco." O muito, para quem está de mal com a vida, será sempre pouco.
- A Riqueza Simples: O rabino Bonder defende que "querer menos coisas e viver de maneira mais simples" são atitudes saudáveis. Numa época de consumo excessivo e insatisfação generalizada, sair desse círculo vicioso e gerar bem-estar para si e para os que o rodeiam é o verdadeiro sinal de que se é realmente rico.
